terça-feira, 14 de abril de 2009

Ouço dizer a verdade/ e sorrio indiferente.../ A Verdade!


"Foi numa noite soturna, a mais soturna possível das noites.(...) Chovera todo o dia uma chuva particularmente fria e escura, uma chuva quase ameaçadora, lembro-me disso, cheia de uma hostilidade evidente para com as pessoas, mas, de súbito, depois das dez da noite, a chuva parou e o ar ficou muitíssimo húmido, mais húmido e frio do que enquanto chovia(...). O céu estava muito escuro, mas era possível distinguir nele umas nuvens rasgadas e, por entre elas, manchas negras sem fundo. De repente entrevi numa dessas manchas uma estrelinha e comecei a olhar fixamente para ela. Foi porque a estrelinha me sugeriu uma ideia: matar-me nessa noite."

"deus tem que ser substituído rapidamente por poe-
mas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.

a dor de todas as ruas vazias.

sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste
silêncio. e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abismo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de acabar comigo mesmo.

a dor de todas as ruas vazias.

mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu coração, ou onde o medo tem a precariedade doutro corpo.(...)"

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