quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Lions in the Street

Lions in the street and roaming
Dogs in heat, rabid, foaming
A beast caged in the heart of a city
The body of his mother
Rotting in the summer ground.
He fled the town.
He went down South and crossed the border
Left the chaos and disorder
Back there over his shoulder.

One morning he awoke in a green hotel
With a strange creature groaning beside him.
Sweat oozed from its shiny skin.

Is everybody in?
The ceremony is about to begin.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Oscar Wilde

“Não defendo o meu procedimento. Explico-o. Há também na minha carta certos passos que se referem ao meu desenvolvimento mental na prisão e à inevitável evolução do meu carácter e atitude intelectual para com a vida daí derivada; e quero que Você e os outros que ainda se mantêm a meu lado e por mim ainda conservam afeição saibam exactamente em que disposição de espírito e de que modo espero defrontar o mundo. É claro que, sob certo ponto de vista, sei que no dia da minha libertação nada mais farei do que passar de um cárcere para outro, e ocasiões há em que o mundo inteiro me parece não maior do que a minha cela e me infunde o mesmo terror. Todavia, creio que no princípio Deus fez um mundo para cada homem separado, e nesse mundo, que existe dentro de nós, devia cada qual procurar viver. Como quer que seja, essas partes da minha carta hão-de penalizá-lo menos que as outras. Não necessito, é claro, de lhe lembrar que fluída coisa é para mim o pensamento – para nós todos – e de que evanescente substância são feitas as nossas emoções. Contudo, vejo uma espécie de possível meta para a qual, por meio da arte, poderei orientar os meus passos.

A vida da prisão faz-nos ver as pessoas e as coisas como realmente são. Por isso é que ela nos transforma em pedra. Só as pessoas lá fora é que são enganadas pelas ilusões duma vida em constante movimento. Giram com a vida e contribuem para a sua irrealidade. Nós, que estamos imóveis, vemos e sabemos.
Faça ou não esta carta bem a naturezas tacanhas e cérebros hécticos, fez-me bem a mim. ‘Limpei o seio de muita ganga perigosa.’ Não preciso de lhe lembrar que a mera expressão é para um artista a suprema e única feição da vida. Se não nos manifestamos, não vivemos. (...) Há quase dois anos que trago dentro de mim um peso crescente de amargor, de uma grande parte do qual me libertei agora. Do outro lado do muro da cadeia há umas pobres árvores de que estão agora a brotar botões de um verde quase gritante. Sei perfeitamente o que nelas se está a passar: estão procurando expressão.”

Isto foi incluído nas instruções acerca de uma carta que Oscar Wilde escreveu enquanto esteve preso.
Eu só tenho a dizer que até hoje sinto que falhei.(Perceberá quem tiver de perceber)

P.S.- Quanto à insinuação do Bilé de não ser saudável partilhar pensamentos comigo.... eu sou a prova viva disso!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Retratos

Não tenho a arte do Marco para fazer posts, mas isto também é bem interessante...

E quis postar também porque o blog estava a revelar um padrão muito perigoso... os últimos posts são todos do Marco!! E toda a gente sabe que a partilhar pensamentos só com o Marco, ninguém fica saudável...eheh

Entretenham-se!

http://www.newyorker.com/online/multimedia/2009/12/07/091207_audioslideshow_platon

Diogo Vaz Pinto

"Na última infância já só trocávamos desinteresses
e olhares de despedida, amostras de perfume
gratuitas e algumas passagens sublinhadas
- os reflexos cada vez mais baços de uma bijutaria
existencial. Partimos o mundo em metades,
deitámos mais cedo os filhos que não tivemos
e despimo-nos já sem desejo, só um resto de ternura
misturada com o susto que nos corria nas veias.

Há umas noites atrás vi-te a escassos passos
de um clube nocturno. Pediste lume a um estranho
e eu tentei avaliar a conotação
presa em cada gesto teu, na largura do sorriso,
na força do olhar, etc. Não sei o que me pareceu.

Esta manhã, à saída do duche, vi que conseguiste
aparecer na televisão. Já que é o que querias
dou-te os parabéns. Tive uma certa pena
de ti - ou de nós, não sei. Logo a seguir
alguma morte mais assinalável teve destaque
na engrenagem noticiosa, junto com a actual crise
de qualquer coisa. Como sabes não ligo muito
aos advérbios de modo que colam as nossas sensações
e se ainda ligo a televisão é só porque esse
é um outro modo mais leve de me calar e sentir
que sou estúpido e estou sozinho. Eis o inferno,
esta loja de conveniência aberta 24 horas por dia,
todos os dias da semana.

Além de umas latas de cerveja e do maço de cigarros,
repara que nenhum de nós precisa muito de nada disto.
Comparar o tamanho das cicatrizes pode ser ainda
uma forma de cruzar palavras, uma imagem de marca
ou até uma patologia. Ou talvez seja apenas a natureza
das coisas restantes - o pouco com que escapamos
à guilhotina do silêncio. Seja como for eu não vim aqui hoje
para acender algum significado, não sei se a vida
é isto ou se se aproveita mais de outros versos,
nem sei se ainda vamos a tempo ou se vale
sequer a pena mudar alguma coisa. A mim agora
só me apetece descer devagar esta rua
e apagar contigo, uma a uma, todas as luzes da cidade."

E já que a Teresinha tanto defende os posts, Fernando Namora:
"E encostada a mim, oferecendo o corpo como escudo, teve, de súbito, um gesto tão feminino, tão humilde, que, por muito que eu o evitasse, me enterneceu: ela descalçara os sapatos, atirara-os para longe e dissera, apertando-me sempre:
-Assim está mais certo. Fico mais pequenina junto de ti. Do meu verdadeiro tamanho.
Do seu verdadeiro tamanho: uma pobre coisa exposta às ressacas do meu temperamento"